Certa vez, me vi em uma pequena cidade no Himalaia durante uma viagem que, a princípio, duraria apenas duas semanas. Mas, graças à minha curiosidade constante e a uma série de coincidências inesperadas, essas duas semanas se transformaram em um mês inteiro.
Eu acordava cedo com o aroma do chai no ar, assistia ao nascer do sol sobre as colinas cobertas de névoa e perdia a noção do tempo em conversas longas com moradores locais e viajantes.
Foi numa dessas manhãs, enquanto passeava por um bazar movimentado, que conheci alguém que mudaria para sempre minha visão sobre rituais diários — uma iogue chamada Amma, hoje com 98 anos.
Amma era uma mulher pequenina, com um sorriso radiante e um olhar quase travesso.
Cada um dos seus 98 anos estava suavemente marcado em seu rosto, mas havia algo atemporal em sua energia. Ela me contou que praticava yoga há mais de oitenta anos.
Meu primeiro pensamento foi: “Isso é mais tempo de yoga do que eu tenho de vida.”
Amma me recebeu em sua vida como se fôssemos velhos amigos. Ela me ensinou sobre os rituais matinais e como acreditava que eles eram a chave para manter a clareza mental, a saúde e a alegria que ela ainda exibia com quase um século de vida.
Quando alguém tem esse tipo de aura, é impossível não prestar atenção.
Ao longo de várias manhãs, ela compartilhou comigo os 7 hábitos essenciais que segue religiosamente. Anotei tudo no meu diário de viagem — e venho consultando essas lições desde então.
A saudação ao nascer do sol
Amma costumava acordar bem antes do amanhecer, muitas vezes entoando cânticos em voz baixa.
Ela chamava esse momento de “o nascimento das possibilidades”. Mesmo que você não seja uma pessoa matinal, a lógica é simples: acordar cedo oferece uma janela rara de silêncio e tranquilidade.
Não há trânsito, quase nenhuma notificação no celular, e sua mente tem a chance de se concentrar antes que o caos do dia comece.
O primeiro gesto dela era saudar o nascer do sol com gratidão. Ela saía para sua pequena varanda, colocava as mãos em posição de oração e simplesmente observava o céu clarear, pouco a pouco.
Segundo Amma, o segredo estava na atenção plena. Ela me lembrava que o sol nasce todos os dias — percebamos isso ou não. Ao nos conectarmos com esse momento, acessamos uma calma que é difícil de encontrar no ritmo acelerado do resto do dia.
E a ciência apoia essa ideia.
Estudos mostram que a exposição à luz da manhã pode ajudar a regular o ritmo circadiano, melhorar o humor e até contribuir para uma melhor qualidade do sono à noite.
Esse também é um momento perfeito para refletir sobre o que vem pela frente — decidir o que realmente importa antes que a lista de tarefas consuma a mente.
Como Amma dizia: “Essa é a minha chance de agradecer ao universo por mais um dia. Por que desperdiçá-la?”
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Alongamentos suaves
Em seguida, Amma fazia sua própria versão de alongamentos de yoga.
Não eram aquelas posturas intensas que a gente costuma ver no Instagram. Ela começava girando os ombros, torcendo suavemente o tronco e movimentando os braços e as pernas em gestos lentos e intencionais.
A rotina podia parecer simples, mas era constante.
Dia após dia, ano após ano, esses movimentos suaves mantinham suas articulações flexíveis e sua mente desperta.
Perguntei a ela por que o movimento era tão importante logo de manhã. E ela respondeu: “Seu corpo é como argila quando você acorda. Você pode moldá-lo para o dia ou deixá-lo endurecer.”
Em uma cultura obcecada por soluções rápidas, é fácil achar que precisamos de duas horas de academia ou um treino super intenso para manter a saúde. Mas talvez o verdadeiro segredo esteja na regularidade.
Amma fez seus alongamentos todas as manhãs por décadas, sem nunca pular — nem mesmo quando estava “ocupada demais”.
O resultado?
Mesmo aos 90 e tantos anos, sua postura era mais ereta do que a minha jamais foi.
O beber consciente
Depois dos alongamentos, Amma tomava lentamente um copo de água morna com gengibre e algumas gotas de limão fresco.
Segundo ela, essa combinação ajudava na digestão e dava mais disposição logo cedo.
Isso pode não parecer nenhuma grande novidade — especialistas em saúde do mundo inteiro falam dos benefícios de começar o dia com água morna com limão.
Mas o diferencial na maneira de Amma fazer isso era a atenção plena.
Ela fazia questão de beber devagar, sentindo a água descer pela garganta, imaginando o líquido nutrindo cada célula do corpo. “Se você já começa o dia com pressa”, dizia ela, “sua mente entra direto no modo de estresse.”
Ela comparava isso a dirigir um carro com o acelerador travado no máximo logo ao ligar o motor. Não é de se surpreender que tanta gente esteja esgotada antes mesmo do almoço.
A respiração consciente
Logo após beber sua água, Amma passava para um exercício de respiração — algo parecido com o pranayama, técnica tradicional de respiração do yoga.
Tentei acompanhar certa manhã e me surpreendi com a dificuldade de manter o foco apenas na respiração.
Amma não complicava: respirava de forma lenta e ritmada, inspirando contando até quatro, fazendo uma pequena pausa, e depois expirando também em quatro tempos.
Ela explicava que isso a ajudava a se manter centrada e presente. Afinal, a maior parte do nosso dia é consumida reagindo a mensagens, e-mails ou notificações infinitas.
Os exercícios de respiração funcionavam como uma pausa para o sistema nervoso, criando um espaço de calma antes da correria começar.
Um estudo de Harvard mostra que a respiração profunda regular pode reduzir a pressão arterial, aliviar a ansiedade e até melhorar a clareza mental. É como uma meditação expressa, sem precisar sentar em posição de lótus por 20 minutos.
Eu costumava dizer que não tinha tempo para isso pela manhã.
Mas ver uma senhora de 98 anos fazendo seus exercícios de respiração antes mesmo de checar o horóscopo (sim, ela também era fã de astrologia!) me fez perceber: quando algo é importante, a gente encontra um jeito.
A intenção do dia
Antes de começar de fato suas atividades, Amma sempre reservava um momento para definir uma intenção para o dia — às vezes em voz alta, outras vezes apenas mentalmente. Essa intenção podia ser uma palavra simples, como “paz” ou “gentileza”, ou uma frase curta como “Hoje me movimentarei com leveza”.
Ela descrevia esse hábito como plantar uma semente na mente.
Tendo estudado um pouco sobre comportamento humano, reconheci algo parecido no que os psicólogos chamam de priming — quando focamos em uma ideia logo no início do dia, começamos a notar situações ligadas a ela com mais facilidade.
Se sua intenção for “ter paciência”, você talvez lide melhor com um colega difícil ou com o trânsito. Se for “criatividade”, é bem provável que note mais ideias e inspirações ao longo do dia.
Simon Sinek fala muito sobre começar com o “porquê”.
De certa forma, essa prática de Amma era o “porquê” dela. Ela não passava pelos dias no piloto automático — direcionava sua mente para um propósito claro.
E o mais incrível?
Levava menos de um minuto.
O desafio mental
Por volta desse momento da manhã, Amma se dedicava a um pequeno desafio mental — geralmente um Sudoku ou uma cruzadinha no idioma local. Para ela, manter a mente ativa era tão importante quanto alongar o corpo.
Achei bonito como ela dava valor à estimulação intelectual, tratava isso como um “aquecimento” do cérebro.
Einstein tem uma frase famosa: “Assim que você para de aprender, começa a morrer.” Pode parecer exagero, mas tem sua verdade. A ideia não é virar um gênio ganhador do Nobel — é apenas manter os circuitos cerebrais funcionando.
Mesmo um quebra-cabeça de cinco minutos já ajuda a ativar áreas do cérebro e deixar a mente mais alerta para o resto do dia.
O segredo, segundo Amma? Constância.
Se ela por acaso pulava esse momento com o jornal ou o caderninho, dizia que se sentia meio “fora do eixo” — como se tivesse esquecido de escovar os dentes.
É um hábito pequeno que, repetido dia após dia ao longo dos anos, ajudou a manter sua mente afiada. Ela até brincou comigo: se ela conseguia resolver cruzadinhas aos 98, eu não tinha desculpa pra deixar meu cérebro enferrujar aos trinta e poucos.
O espírito de brincar
Antes de mergulhar nas tarefas do dia — que incluíam dar aula de yoga para iniciantes — Amma sempre fazia algo leve e divertido.
Às vezes ela cantava uma canção popular antiga, outras vezes dançava por alguns minutos ao som de músicas de Bollywood, tocando em seu velho rádio.
Teve uma manhã em especial em que ela me convidou para dançar junto. Vamos dizer que meus dotes de dança não são exatamente um espetáculo, mas rimos tanto que nossas bochechas ficaram doloridas.
Esse momento lúdico talvez seja o aspecto mais subestimado de uma rotina matinal.
Juntando tudo
Depois de viver aquelas manhãs ao lado de Amma, passei a enxergar os rituais diários com outros olhos.
Ela não fazia nada sofisticado ou caro. Não seguia modismos nem vendia cursos de bem-estar.
Ela apenas se movia com suavidade, acalmava a mente e criava espaço para gratidão, curiosidade e alegria.
Com o tempo, essas práticas simples trouxeram grandes resultados:
- Uma mente alerta
- Um corpo saudável
- E aquele brilho contagiante nos olhos
Desde então, comecei a incorporar partes da rotina dela nas minhas manhãs.
Passei a gostar de acordar um pouco mais cedo para ver o sol surgindo no horizonte, fazer alguns alongamentos suaves e respirar com mais consciência.
E definitivamente reconheço o valor de incluir algo divertido logo cedo — seja uma pequena dança ou cantarolar uma música favorita.
A grande lição?
Se uma iogue de 98 anos consegue manter sua saúde, leveza e clareza mental com hábitos diários simples e intencionais, talvez o resto de nós também consiga.
Como Amma costumava dizer:
“Sempre há tempo para aquilo que mantém você verdadeiramente vivo.”
E depois de ver sua rotina de perto, eu acredito nisso com todo o coração.
